O Basilisco era chamado rei das serpentes porque todas as outras cobras, comportando-se como bons súditos e muito sensatamente não desejando serem queimadas ou fulminadas, fugiam logo que ouviam a distância o silvo de seu rei, ainda que estivessem se banqueteando com a mais deliciosa presa, deixando o manjar para o monstruoso monarca.
O naturalista romano Plínip assim descreve o basilisco: "Não arrasta o corpo, como as outras serpentes, por meio de uma flexão múltipla, mas avança firme e ereto. Mata os arbustos, não somente pelo contato, mas respirando sobre eles, e fende as rochas, tal é o poder maligno que ele existe." Acreditava-se que, se o basilisco fosse morto pela lença de um cavaleiro, o poder do seu veneno, conduzido através da arma, matava não somente o cavaleira mas até o cavalo. Lucano faz alusão a esse fato nos versos:
Ele matou o basilisco em vão,
Deixando-o inerte no arenoso chão.
Corre o veneno através da lança
E mata o mouro, quando a mão alcança.
Os poderes maravilhosos dos basiliscos são atestados por vários sábios, como Galeno, Aviceno, Scaliger e outros. Por vezes, algum deles duvidava de uma parte da lenda, mas admitia o resto. Jonston, um médico letrado, observa sensatamente: "Seria defícil de acreditar que ele mata com o olhar, pois, assim sendo, quem o teria visto e continuado vivo para contar o caso?" O digno sábio não sabia que aqueles que iam caçar o basilisco dessa espécie levavam consigo um espelho, que fazia refletir a horrível imagem sobre o original, fazendo o basilisco matar-se com sua própria arma.
Mas quem seria capaz de atacar esse terrível monstro? Há um velho ditado segundo o qual "tudo tem seu inimigo", e o basilisco intimidava-se diante da doninha. Por mais amedrontador que fosse o aspecto da serpente, a doninha não se preocupava e entrava na luta ousadamente.Quando mordida, retirava-se por algum tempo para ingerir a arruda, que era a única planta que o basilisco não fazia murchar, e voltava a atacar com redobreado vigor e coragem, não deixando o inimigo enquanto não o estendia morto no chão. O monstro, como se consciente da estranha maneira pela qual vinha ao mundo, votava, também, extrema antipatia ao galo e estava sujeito a exalar o último suspiro tão logo ouvisse o canto daquela ave.
O basilisco tinha alguma utilidade depois de morto. Sabemos, assim, que sua carcaça era colocada no templo de Apolo, e em casas residenciais, por ser um remédio soberano contra aranhas, e que também era posta no templo de Diana, motivo pelo qual nenhuma andorinha se atrevia a penetrar no recinto sagrado.
Shelley, em sua "Ode a Nópoles", cheio de entusiasmo ao ter notícia da proclamação de um governo constitucional naquela cidade, em 1820, faz a seguinta alusão ao basilisco:
Blasfemar-te atravessaram-se, impudentes,
E a liberdade blasfemar? A sorte
Tenham de Actéon, que, nos dentes
De seus próprios mastins achou a morte!
Vencendo os desafios e o perigo
Da tirania, em cada momento,
Sê como o basilisco, que inimigo
Mata por invisível ferimento.
Bibliografia: O livro de ouro da Mitologia - História de Deuses e Heróis - Thomas Bulfinch
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